sábado, 11 de julho de 2009

1, 2, 3, ZAP!!!!

Na última quinta-feira fomos ao ZAP!

Zona Autônoma da Palavra, a primeira noite de "Poetry Slam" (batalha de poesia) do Brasil. Acontece toda segunda quinta-feira do mês no Núcleo Bartolomeu de Depoimentos - Teatro Hip Hop.

É um espaço dedicado à poesia falada, ágora livre, fresta no tempo, onde a diversidade é convidada de honra e a celebração da palavra o principal objetivo. A entrada é livre, é só chegar. A noite começa com a projeção de um filme às 19h. Em seguida, às 20h, começa o "Microfone aberto", onde podem ser declamadas (ou lidas) poesias e textos autorais e de outros autores. Às 21h começa a batalha, o "Slam"! Qualquer pessoa pode participar, é só se inscrever na hora! Quem ganha o "Slam" leva como prêmio uma pilha de livros! livros! livros!



Neste ZAP! assistimos o filme "Carta ao Presidente", que trata da relação
política X hip hop.





Participantes...



Eugênio Lima o ZAPeão da noite!!

No blog do ZAP! eles comentam nossa participação:
(...) e a diversidade esteve presente no palco e na platéia: tivemos a participação do grupo de artistas surdos Corposinalizante (www.corpo-sinalizante.blogspot.com) e tradução simultânea das poesias para LIBRAS (Lingua Brasileira de Sinais).


confira mais informações aqui: http://zapslam.blogspot.com

O sarau foi inspirador! Estamos pensando em voltar no próximo para apresentar poesias em LIBRAS! Poesias corporais-visuais...Abaixo algumas poesias do Corposinalizante:


*
Grande Partida da Infância
(Felipe Lima)

No meio da rua
Num velho bairro da periferia
Terá uma grande partida
Onde o grande é pequeno


Em pleno sábado quente
Chegaram sem hora marcada
Os rostos dos jogadores são como uniformes
Depois de ímpar e par e após disso a bola já é rolada

Onde tem bola velha e murcha
Ou bola de tênis suja
Ou até lata de cerveja amassada do papai
Que é a bola do jogo

O par de tênis que fica entre gols como trave do gol
Chinelos velhos que ficam nas mãos como luva do goleiro
Sem limites dos números de jogadores
Tem permissão de jogar sem ou com tênis

Os olhos dos jogadores fixam na bola
Esquecem a placa do jogo
Até esquecem o dever de casa
Até esquecem o almoço

Os ruins vão para o gol
Os bons só atrás da bola
Raramente terá substituições
Todos os jogadores são juízes

O jogo pode ser interrompido
Quando o Fusca ou a Brasília passarem na rua
Também quando a bola cair no quintal da vizinhança
Após isso, resgatam uma bola e normalmente o jogo volta

O jogo nunca vai terminar, até anoitecer
Ou até quebrar um vidro da vizinhança
Ou até a tempestade
Ou até a mãe do dono da bola chamar para ficar de castigo

Assim o jogo termina!


Passarar
(Cibele Lucena)
Pas.sa.rar (prática abaquar) vint 1
Ato de fazer acrobacia; rasante da ordem dos passeriformes; 2 Locomover-se aos saltos; 3 Confiar nos cantos: o que aqui ressoa, ressoa lá; 4 Projetar o corpo para o passado e para o futuro em tempo presente: aqui e lá são apenas possíveis; 5 Estender-se; transmigrar; planar: um pássaro à frente e você não está mais no mesmo lugar.


Salto Alto, altíssimo
(Joana Zatz Mussi)

Por que rígida quanto como somos?
Bate em tecla mesma
Mesmo sem querer
E bate, bate perna, procura, experimenta e não acha
Cadê?

Esta ali atônita, o universo a sua volta e olha
e não encontra
Pensou um dia que queria um vestido vermelho
Talvez um sapato bem alto, para ver do alto

Mas não sabia direito, o sentimento era este
Mas era outro
Vermelho na verdade pois queria ser mulher
E não sabia
O alto salto do sapato, porque queria saber saltar
E aprender, finalmente, a ir do alto para o baixo
E do baixo profundo para o alto
E no altíssimo sentido do mundo não se perder

Só que não ouviu direito, aquela mulher
Não se ouviu, não se fez
E bateu perna e a cabeça,
Vou te falar, ah, ela bateu!

Quanta tristeza criou para si mesma,
quantas lojas visitou
sem se encontrar, sem saber porquê,
e se perguntava: por quê?

Até que um dia tirou o salto e pensou sobre ele
E percebeu que lá estava contida toda a sua angústia
E a sua cura

Para colocá-lo e retirá-lo era preciso
muito mais esforço do que jamais imaginara
E o sentimento profundo daquele movimento
Alto, baixo,
Amplidão, minúcia,
Gênero e Espécie

Sentiu, finalmente sentiu a pulsação da vida
Naquele salto pôde passar do sofrimento e rigidez
À deliciosa maciez do mundo
E, assim, concebeu a si mesma.


Fotos: Cibele Lucena e Rafael Leona
Corposinalizante