segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Corpo Nossa Lingua, o filme

O processo do filme “Corpo, Nossa Língua,” tem sido bastante intenso até agora. Com o objetivo de mostrar a relação da comunidade surda com a educação, o nosso grande desafio é conseguir fazer isso sem deixar de lado a dimensão poética, artística e criativa do nosso trabalho. Por outro lado, é importante que o contexto a partir do qual falamos se torne claro para aqueles que não participam e não conhecem essa realidade.


As duas primeiras entrevistadas do filme foram Karina, uma menina de 10 anos de idade, e Luana, uma adolescente. Com um tapete na mão, “objeto delimitador do espaço de conversa”, os entrevistadores, jovens do Corposinalizante, criaram situações de escuta no meio da cidade. Karina escolheu para contar a sua história um parque e Luana a Avenida Paulista.


A história da Karina relata a história da “fada dos dentes”, que teria aparecido à noite em uma viagem que fez com a escola. A da Luana relata a sua relação com os livros, o gosto que tem pela leitura. São histórias simples e que não tem uma relação direta e óbvia com o tema “educação na comunidade surda”. A relação com o tema é, na realidade, sutil, quase invisível. Diz respeito, sobretudo, à possibilidade que essas duas meninas tiveram de estabelecer relações saudáveis com o espaço-tempo do aprendizado; criar afetos com objetos comuns entre culturas (o livro, o universo da escrita, é uma linguagem acessada pelos olhos e não pelos ouvidos).


Apesar da riqueza poética das entrevistas, percebemos, também através dos olhos críticos do pessoal da Matizar, que faltava uma inserção mais “objetiva” no filme, até para que a sutileza ganhasse mais força e sentido. Por isso, passamos a focar na idéia de fazer conversas mais jornalísticas com os dois entrevistados que viriam a seguir, preparando algumas perguntas mais focadas na relação deles com educação.


Com isso, poderemos misturar na edição duas conversas mais soltas (narrativas de histórias pessoais), com duas mais objetivas. O 3º entrevistado, já filmado, teve uma experiência diferente com educação: ele fez o colegial em uma escola de ouvintes, sem intérprete de Libras, e hoje está terminando a faculdade.


Fizemos essa diária de filmagem na última quinta-feira e a entrevista foi muito boa! Além de pedir para ele nos contar uma história pessoal, nós também fizemos perguntas mais objetivas e direcionadas a ele, o que trouxe um contexto muito maior da relação surdo/educação para o filme.


A história pessoal foi muito bacana. Ele nos contou que estudou no Mackenzie durante o colegial, não teve acesso a um intérprete e, por isso, usou leitura labial em todas as aulas - o que muitas vezes foi super complicado, principalmente quando os professores esqueciam de sua presença e viravam de frente para a lousa (de costas para os alunos) e continuavam falando. Mas ele sempre chamou a atenção de todos para a sua presença e tirou notas muito altas em todas as matérias, exceto em uma delas. O professor desta matéria na qual ele não tirava boas notas, foi procurá-lo certo dia, perguntando por que ele não ia bem. Ele explicou que, por conta de sua barba, não conseguia fazer leitura labial e compreender os conteúdos. Na mesma hora, no próprio horário escolar, o professor, que usava uma barba enorme, voltou para a sala de aula sem barba!


As respostas deste entrevistado para as nossas perguntas foram muito importantes para melhorar o foco do filme e trazer de maneira mais forte o contexto da educação para a comunidade surda:


1) Conte uma história pessoal que tenha relação com sua experiência escolar.

2) Quanto tempo você estudou na escola especial e na escola comum?

3) Estudar em uma escola de surdos antes de estudar com ouvintes foi importante em que?

4) Quais estratégias você usou para acompanhar as aulas expositivas (leitura labial, aparelho auditivo, copiou anotações feitas na lousa, emprestou caderno de amigos, estudou com amigos?

5) O que você acha da idéia de inclusão na educação?


Agora estamos preparando nossa última entrevista, com um senhor de mais idade que seja professor surdo. Queremos, com isso, entender a trajetória de alguém que tenha sido aluno surdo em uma época na qual a Libras era proibida como língua, e agora é um professor para alunos surdos, usando a Libras como língua legítima e oficial. Pensamos em fazer essa entrevista tendo como pano de fundo uma biblioteca ou uma escola, trazendo essa imagem de forma mais forte nessa personagem, de modo a remeter diretamente a esse contexto. Faremos esta 4ª e ultima entrevista ainda esta semana.


Também estamos pensando em como trazer a performance corporal para ser usada, visualmente, no final do filme, pois isso também é algo que marca nossa identidade como grupo. Estamos escrevendo um breve parágrafo, que contextualiza a situação da educação dos surdos no Brasil, até quando o uso da Libras foi proibido em escolas brasileiras etc... e pensamos em fechar o filme com este pequeno textinho (em GC) e a ação acontecendo visualmente.


Nosso grande desafio nesse momento é de fato conseguir misturar a dimensão mais poética do nosso trabalho com a dimensão mais objetiva e histórica da relação da comunidade surda com a educação.


Texto: Cibele e Joana

sábado, 18 de setembro de 2010

Narrando: 5° Encontro AVLAB

No dia 11 de Setembro deste ano - data importante, não por conta daquele ataque terrorista que vocês estão pensando! rsrs... - aconteceu um encontro no Centro Cultural da Espanha chamado 5° Encontro AVLAB/"Tecnologias Sociais: arte colaborativa e intervenção urbana".

O Corposinalizante foi convidado para apresentar seu trabalho, junto com dois outros grupos palestrantes. Eu, Cibele Lucena e Luana Milani nos dispomos à ir.

o Grupo "Experiencia Imersiva Ambiental - EIA" e "Esquizotrans" fizeram parte do encontro junto com o Corposinalizante.

Entre os ouvintes, no público estavam os surdos: Marcela (aluna do curso Foco em Libras do MAM), Alexandre Melendez (participante de dois de nossos filmes: Atrás do Mundo e Corposinalizante) e mais outros surdos. Tinhamos duas intérpretes, que trabalham na UniSantana e também apareceu a mãe e avó da Luana!

Apresentamos através de alguns slides a origem do Corposinalizante e suas principais ações e no final da apresentação exibimos o filme Atrás do Mundo. Todo mundo bateu "palmas para surdos”.

Após nossa fala, participamos de uma “performance” maravilhosa do EIA. Os artistas tinham um carrinho com uma jarra de chá quente, não lembro qual sabor, eram muitas ervas misturando os sabores, para animar o povo de lá. Falavam sobre sabores... por exemplo, se você quer sentir tesão, pega a pimenta para botar na água, se quer calma, bota canela ou algo assim.

Tudo foi perfeito naquele dia!

Texto: Felipe Lima

O Céu nos Observa

Assista aqui o vídeo final:

O Céu Nos Observa from daniel lima on Vimeo.



A proposta do documentário para web O CÉU NOS OBSERVA foi criar interferências numa imagem da cidade de São Paulo captada por satélite. Através de ações criadas por pessoas mobilizadas por uma chamada pública, o documentário propõs uma discussão sobre a capacidade de interferir coletivamente nas estruturas de controle e vigilância de escala global. Um processo poético de criação de “ruídos” na representação da metrópole.

Participação: Corposinalizante.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Palestra do Corposinalizante no AVLAB São Paulo

Olá todos e todas!

Neste sábado acontece em São Paulo o #5 Encontro AVLAB.

O tema do evento é: "Tecnologias Sociais: arte colaborativa e intervenção urbana".

O Corposinalizante será um dos palestrantes, representado por Felipe Lima e Luana Milani. Apresentaremos o histórico do grupo, nossos objetivos, a importância das tecnologias sociais para a nossa produção, entre outras coisas.

Projetaremos também um de nossos filmes: Atrás do Mundo!

Apereçam para nos prestigiar e ajudar a divulgar nossas ações!

ENTRADA FRANCA . TEREMOS INTÉRPRETE

Sábado 11 de setembro . 17h as 19h .

Centro Cultural da Espanha . Av Angélica, 1091 . Higienópolis

domingo, 5 de setembro de 2010

Corpo Nossa Lingua - Matizar

Vem aí uma novidade:

Há um mês fomos convidados pela produtora Matizar para participar de uma série de filmes para a televisão chamada "Porque a gente é assim?"!

A regra é: são 6 temas difrentes - educação, preconceito, fé, autoridade, sexo e consumo - tivemos que escolher um deles para documentar em um filme de 5 minutos.

Já escolhemos o tema "educação" e decidimos tratar da vida dos surdos na escolas.

A Matizar é uma produtora de cinema e vídeo do Rio de Janeiro, responsável, entre outros, pelos documentários Fala tu (2003), sobre músicos na Zona Norte carioca, e PQD (2007), sobre os recrutas da Brigada Paraquedista. Co-produzimos também, com a Videofilmes, os documentários Jogo de Cena (2007) e Moscou (2009), de Eduardo Coutinho. Temos curtido pensar este novo projeto como uma “meta-crônica”. Ou como “micro-crônicas”. Filmar gente de perto, sobre seus comportamentos, escolhas e hábitos comuns. Brasileiros em ação, e em reflexão, e o que isso nos diz sobre “Por que a gente é assim?”. Antes de avançarmos em nossos pontos de partida, gostaríamos de reforçar a nossa vontade (e a nossa necessidade) de vocês irem além deles.

Vamos mostrar o resumo do nosso projeto:

Corpo Nossa Língua, criado pelo coletivo de artistas e educadores surdos Corposinalizante, é um filme-intervenção sobre a relação dos surdos com a escola. Uma criança, um adolescente, um jovem e um adulto surdo, contam em diferentes espaços da cidade de São Paulo fatos que marcaram sua trajetória escolar. Os depoimentos são intercalados por imagens da cidade e pelo conjunto do conteúdo relatado.

Creio que um grande problema nosso é as pessoas não terem conhecimento dos surdos e pensarem que todos são a mesma coisa: torcem para o mesmo time, gostam do mesmo prato e tem as mesmas idéias. Alguns surdos se dão bem em escolas “comuns”, outros em escolas “especiais”. O mais importante na discussão é termos cada vez melhores espaços de comunicação, disso tratará o filme Corpo Nossa Língua. (Felipe Lima, surdo, 19 anos, integrante do Corposinalizante).

Usaremos depoimento, através de um círculo de histórias, como linguagem para trabalhar com histórias de vida de diferentes surdos e “cinema direto” como linguagem para captar imagens de uma performance realizada em uma escola.

Para o círculo de histórias, os convidados serão: uma criança, um jovem e dois adultos, com diferentes experiências de vida. Buscaremos histórias que tragam à tona, a partir da vivência escolar de cada um, muitas dimensões da comunidade surda, a constituição desta identidade e os seus desafios no interior da sociedade mais ampla.

Tanto as imagens da cidade quanto as cenas na escola serão filmadas com câmeras “Sony V1 HDV” e editadas em “Final Cut 7.0.1.”. Nosso parceiro para este projeto é o Thiago Lucena, que está fazendo câmera, edição e direção junto com a gente. Eduardo Consonni é outro parceiro, que está fazendo a segunda câmera.

Logo teremos mais novidades...

Texto: Felipe Lima