quarta-feira, 13 de abril de 2011

Habitar o corpo - pensando sobre nossa experência

Aos poucos, várias questões passam a ocupar tempos e espaços do trabalho. Em primeiro lugar, as questões relativas e intrínsecas ao próprio processo. Por exemplo, quando atuamos performaticamente, qual a marca que fica? Como lidar com a dimensão efêmera da performance? Qual a potência cognitiva que podemos perceber em uma comunicação que se dá através de uma língua visual? Por que, ao longo do processo com jovens surdos, chegamos na atuação performática? Qual a dimensão política do corpo? E destes corpos de jovens surdos? A Libras é uma dança? Como habitar o corpo e colocá-lo, habitado, para mover-se no espaço e mover o espaço? Qual a dimensão corporal e corpórea da intervenção urbana? Como expandir o momento performático, problematizando-o e tornando-o um momento interventivo? Qual o papel do corpo na produção do espaço? Como tornar visível o instante de embate do corpo com a cidade, como metáfora da relação produtiva/participativa que podemos ter na criação da cidade? Quando estamos fazendo uma intervenção na rua, como fica o nosso corpo? Como ele é interpretado? Qual a relação entre a intervenção com o corpo e a intervenção nos meios de comunicação de massa (mass media)? Quais os vários níveis de marcas que podem ser deixados por uma “performação”?


Que riqueza se conseguirmos juntar performance e intervenção! Caminho possível que estamos trilhando juntos: uma performance que deixa uma marca na cidade. O corpo é fonte inesgotável de comunicação, o corpo é mídia, é a primeira mídia, a “mídia 0”.


O trabalho proposto pela Juliana, a técnica de VP, mexeu com todas estas percepções e questionamentos, de forma prática, ativando a relação do corpo com o espaço e com o tempo. Ao propor diversos exercícios individuais e coletivos, fomos percebendo como e o quanto os corpos modificam o espaço, desta forma, o desenho e a posição de um corpo no espaço produz espaço. Além disso, ela soube utilizar de forma muito interessante a Libras como fonte de movimento, quando pediu que cada jovem escolhesse uma frase em Libras e, mudando qualidades no falar dessas frases (rápido, devagar, pequeno, grande), a Libras se transformou em dança. Os jovens disseram ter percebido que o “habitar o corpo” tão mencionado pela Juliana e Mariana, fez com que percebessem que eles habitavam apenas as mãos.


Por outro lado, a intimidade que eles têm com o movimento corporal como forma de cognição, é bastante visível. Juliana trouxe a repetição do movimento como forma de inflexão que torna-o visível, ou seja, como estratégia de dar visibilidade a alguma coisa que se quer dizer.


Aos poucos, conforme víamos algumas referências de artistas que atuam a partir do corpo, como Lygia Clark, O Povo em Pé, Andy Goldsworth, DV8, entre outros, fomos percebendo algumas estratégias interessantes como referências para as performances: interrupção dos fluxos cotidianos, tempo estendido do movimento, o fazer como ato performático, corpo do artista fazendo a obra como parte dela, roupas como extensão e destaque do próprio corpo, o momento da ação como momento criador, como momento de provocar a cidade e provocar cidade, destacar movimentos simples e as qualidades dos movimentos e interações, o desenho da trajetória do corpo como forma de dizer algo, estender o tempo do corpo indo marcar a cidade como momento fundamental, o que interessa não é uma grande idéia, mas alguém propor alguma coisa e os outros dizerem sim, formando um corpo coletivo, cidade como campo de brincadeira e jogo, brincadeiras de crianças e arte como contendo uma semelhança.

Nenhum comentário: